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segunda-feira, 21 de maio de 2012


Bratislava: a antiga travessia de rio
é uma moderna capital

IMAGINE voltar no tempo, lá para o ano 1741. Há muita expectativa no ar. Ao som de fanfarras festivas, as pessoas se acotovelam tentando se aproximar da rua onde vai passar uma procissão. Vêem-se camponeses em trajes domingueiros e altivos burgueses ataviados com roupas da última moda. Também os nobres se fazem presentes, desejosos de observar e ser observados. Enviados da realeza distribuem moedas de ouro e de prata com a estampa de uma jovem dama, ao passo que o povo grita de empolgação. Por que toda essa comoção? Maria Teresa, arquiduquesa da Áustria, está chegando à cidade para ser coroada a nova rainha da Hungria.
Voltemos ao presente. Se você desejasse visitar o local em que ocorreu essa importante coroação, para onde iria? Não a Viena, onde muitos turistas hoje admiram o palácio real de Maria Teresa, nem a Budapeste, capital da moderna Hungria. Você teria de visitar Bratislava, uma cidade às margens do Danúbio, uns 56 quilômetros a leste de Viena.
A Bratislava de hoje, com cerca de meio milhão de habitantes, é a capital da pitoresca Eslováquia. Trata-se de uma cidade pequena em comparação com as capitais vizinhas, como Budapeste, Viena e Praga. Mas por mais de dois séculos foi a capital da Hungria, usufruindo de toda a glória ligada a tal posição privilegiada. De fato, a coroação de 11 governantes húngaros ocorreu nesta cidade. Mas o que a tornou tão especial?

Uma povoação antiga
Bratislava ocupa uma posição vantajosa às margens do Danúbio, o segundo rio mais extenso da Europa. No passado, o Danúbio diminuía seu fluxo neste ponto e ficava raso, criando uma travessia natural. Muito antes de haver pontes, as pessoas, com seus animais e carroças, atravessavam o rio ali. De forma que desde os tempos antigos a região da Bratislava atual era uma encruzilhada movimentada. Em 1500 AEC, uma das Rotas do Âmbar — importantes estradas comerciais que ligavam o norte e o sul da Europa — passava pela cidade. Mais tarde, o trânsito no vau era controlado por uma fortaleza localizada numa colina próxima, onde hoje fica o Castelo de Bratislava.
Se você pudesse voltar no tempo, com quem se depararia nessa travessia? Bem, fazendo a visita lá pelo quarto século AEC, você seria recebido pelos celtas, que haviam tornado essa região o centro de sua cultura. A colina era uma espécie de acrópole para a comunidade céltica local, que produzia cerâmica e cunhava moedas.
E se fizesse a visita no começo da Era Comum? Falando um pouco de latim, talvez pudesse conversar com os habitantes dali, pois na época os romanos tinham estendido suas fronteiras para o norte até o Danúbio. Mas é provável que também se deparasse com povos germânicos procedentes do oeste.
Se programasse a visita mais para a Idade Média, digamos no oitavo século, você encontraria uma mescla de povos. Nessa época já havia ocorrido o que veio a ser conhecido como a Grande Migração, e o povo eslavo procedente do leste havia começado a se estabelecer no território. Os húngaros haviam se estabelecido ao sul e também haviam penetrado na região de Bratislava. Mas de alguma forma o elemento eslavo predominou. Prova disso é o nome eslavo do primeiro castelo real da região, construído no décimo século. Era conhecido como Brezalauspurc, que significa “Castelo de Braslav”, nome que, segundo consta, foi dado em homenagem a um oficial do exército de alto escalão. Daí o nome eslovaco Bratislava.

Uma cidade medieval
Com o tempo, o país hoje chamado Eslováquia tornou-se parte da Hungria. Um relato histórico de 1211 EC diz que o Castelo de Bratislava era o mais bem fortificado da Hungria. Trinta anos depois confirmou-se essa fama quando o castelo resistiu ao ataque dos invasores tártaros. Isso contribuiu para o crescimento populacional em torno do castelo, e, em 1291, o rei húngaro Ondrej III concedeu à cidade plenos privilégios de municipalidade. Os cidadãos ganharam assim o direito de eleger seu próprio prefeito, de transportar seus produtos pelo Danúbio e de comercializar livremente, “tanto nas águas como em terra firme”. Visto que as ensolaradas vertentes da cidade eram propícias ao cultivo de vinhedos, o direito dos cidadãos de vender vinho caseiro era muito apreciado.
Mais tarde os reis húngaros concederam à cidade privilégios adicionais, contribuindo ainda mais para sua expansão. Em 1526, Bratislava começou seu longo reinado como a capital da Hungria, posição que conservou até 1784. Neste ínterim, a mescla étnica de Bratislava tornou-se ainda mais variada. Sua população, constituída principalmente de eslavos e húngaros, foi enriquecida por um influxo de povos germânicos e judeus. No século 17, quando a dominação turca se expandia em direção ao oeste e ao norte, muitos croatas buscaram refúgio na região de Bratislava, como fizeram os exilados tchecos que fugiam da Guerra dos Trinta Anos entre católicos e protestantes, mais para o oeste na Europa.

Bratislava no século 20
No início do século 20, Bratislava havia-se tornado uma cidade cosmopolita, uma mescla de diversas nacionalidades e culturas. Na época, para ter certeza de ser atendido numa loja, era melhor fazer o pedido em alemão ou em húngaro. Mas os tchecos e os ciganos também desempenharam um papel importante, da mesma forma que a comunidade judaica. Antes da Primeira Guerra Mundial, apenas cerca de 15% da população era eslovaca. Mas em 1921 os eslovacos eram a nacionalidade predominante na cidade.
Logo, nuvens escuras da Segunda Guerra Mundial passaram a encobrir a Europa. Assim começou um triste capítulo da história de Bratislava, que destruiu a harmonia étnica da cidade. Primeiro, os tchecos foram forçados a partir. Daí, os ciganos e os judeus foram deportados, e milhares acabaram morrendo em campos de concentração. Terminada a Segunda Guerra Mundial, a maioria dos habitantes de língua alemã também foram deportados. Com o tempo, membros de cada um desses grupos étnicos voltaram para a sua velha cidade natal, e sua presença ainda hoje enriquece o clima cosmopolita da cidade.

Uma visita à Bratislava de hoje
Quer nos acompanhar num breve passeio pela atual Bratislava? Primeiro, visitamos o belo Castelo de Bratislava, que foi reconstruído. Do jardim do castelo temos uma vista panorâmica da cidade, que se espalha pelos dois lados do Danúbio. 
Descendo a colina do castelo chegamos à Cidade Velha, o centro histórico de Bratislava. Ao caminhar pelas ruas pitorescas e estreitas, sentimos como se estivéssemos respirando o ar dos séculos passados. Admiramos a bela arquitetura dos palácios e das casas dos burgueses. Se desejar, podemos dar uma passadinha num dos históricos cafés para tomar café ou chá e saborear deliciosas tortas bratislavas recheadas com nozes e sementes de papoula.
O ano inteiro há turistas passeando pelas margens do Danúbio, do lado da Cidade Velha. Aqui eles não podem deixar de notar um símbolo da moderna Bratislava — a Ponte Nova, com restaurante no alto de uma torre inclinada. Sua estrutura arquitetônica dá a impressão de que o restaurante está suspenso sobre a área residencial de Petržalka, do outro lado do rio. 
Se você tem a impressão de que há muita construção em andamento em Bratislava, não está enganado. Além das partes recentemente reconstruídas da Cidade Velha, ergueram-se muitas estruturas de vidro e aço na década de 90, e mais estão surgindo. São esses escritórios, centros comerciais e bancos que dão à cidade seu aspecto moderno.
É claro que você gostaria de comprar um bonito souvenir para levar. Podemos passar nas lojas de artesanatos, que vendem belas toalhas de mesa, de renda, ou bonecos vestidos de trajes típicos. Ou, se preferir, podemos ir ao Mercado Municipal ao ar livre, onde poderá fazer compras exatamente como os moradores da cidade o fazem há séculos. Talvez você também queira visitar a bela sede da congênere da Sociedade Torre de Vigia nesta cidade.
Quem sabe, um dia você realmente visite Bratislava. E se o fizer, com certeza gostará dessa pitoresca capital moderna que surgiu numa travessia de rio.



Fonte: Revista Despertai de 22.01.2000

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